terça-feira, 20 de abril de 2010
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Chovem duas chuvas:
Cantiga
Desventura
Tu és como o rosto das rosas:
diferente em cada pétala.
Onde estava o teu perfume? Ninguém soube.
Teu lábio sorriu para todos os ventos
e o mundo inteiro ficou feliz.
Eu, só eu, encontrei a gota de orvalho que te alimentava,
como um segredo que cai do sonho.
Depois, abri as mãos, – e perdeu-se.
Agora, creio que vou morrer.
Cecília Meireles
Poema Perfume Proibido
Perfume da Rosa
Quem bebe, rosa, o perfume
Que de teu seio respira?
Um anjo, um silfo? ou que nume
Com esse aroma delira?
Qual é o deus que, namorado,
De seu trono te ajoelha,
E esse néctar encantado
Bebe oculto, humilde abelha?
- Ninguém? - Mentiste: essa frente
Em languidez inclinada,
Quem ta pôs assim pendente?
Dize, rosa namorada.
E a cor de púrpura viva
Como assim te desmaiou?
e essa palidez lasciva
Nas folhas quem ta pintou?
Os espinhos que tão duros
Tinhas na rama lustrosa,
Com que magos esconjuros
Tos desarmam, ó rosa?
E porquê, na hástea sentida
Tremes tanto ao pôr do sol?
Porque escutas tão rendida
O canto do rouxinol?
Que eu não ouvi um suspiro
Sussurrar-te na folhagem?
Nas águas desse retiro
Não espreitei a tua imagem?
Não a vi aflita, ansiada...
- Era de prazer ou dor? -
Mentiste, rosa, és amada,
E também tu amas, flor.
Mas ai! se não for um nume
O que em teu seio delira,
Há-de matá-lo o perfume
Que nesse aroma respira.
Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'
Lembranças do teu perfume
O poema acordou-me do letargo
A vida sem sentidos mediana
Respirava o arcabouço sem recheio
O corpo no teu perfume naufragado
E por pouco não sou contigo apanhado
Abro os olhos e me reconheço abandonado
Inebriado estou, adormecido era
Embriagado fora carregado a alvorotado
Sono em que te enlaçava e morríamos
Novamente tu e eu de amor
Ressuscitado pelo poema
Sou novamente a saudade de ti
Virás com a nova noite, em devaneio
A nostalgia a me consumir inteiro
Melancolia em marasmo alarmante
Mortificado anticlímax do reencontro,
Consumou-se o escopo de tê-la amado
Adroaldo Bauer
Perfume ( PoemaVI )
Perfume de você
Um fascínio misterioso
Sensações nem sei de quê,
É poesia, é doçura,
Nenhum sabor de amargura,
É o perfume de você...
Um enigma a desvendar,
Sua chegada antevê...
Antecipa as delícias
De suas fatais carícias
O perfume de você...
Um mistério que arrebata,
Quando a gente se revê...
Mesmo após remir a chama,
Permanece em nossa cama,
O perfume de você...
Delicado e colorido
Como as flores num buquê,
Companheiro de verdade,
Em presença ou na saudade,
É o perfume de você...
Eternamente, a exalar
O amor que a gente crê...
Inebriante como agora,
Sentirei na vida afora,
O perfume de você!
Oriza Martins
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